terça-feira, 15 de novembro de 2011

Cartas para Morpheus

       Morpheus, Morpheus porque me abandonou? Fizemos um trato em que você me afastaria dos pensamentos ruins enquanto estivesse em seu reino, disse que eu seria um rei sem um trono em seu mundo, cavalgaria nuvens e comandaria estrelas, eu enfrentaria monstros e demônios montado em meu cavalo branco, moldaria vida e reconstruiria o paraíso.
          Por um tempo eu fiz tudo isso em seu reino, tudo estava correndo como combinamos, enquanto estava sobre os efeitos de suas areias, eu era invencível, era perfeito. Em uma de minhas passagens eu enfrentei Deus em sua forma mais pura, pintei céus em tons de purpura apenas pela diversão, me tornei o tirano e o salvador de um mundo, ao mesmo tempo. Eu era um Deus. Por um tempo houveram rosas e canções em meu nome, eu apreciava passar mais tempo no seu reino do que no meu próprio mundo e provavelmente não fui o primeiro a desejar nunca mais sair de lá.
           Mas você me enganou mestre dos sonhos,  você trouxe o arauto de minha loucura pro meu pequeno paraíso,  você usou cada um dos meus temores contra mim, e eu sequer pude fazer algo contra isso.  Fez-me rever momentos da minha vida mortal, passagens que eu queria esquecer, olhares e o primeiro beijo, a nossa primeira noite (da qual ironicamente eu guardo marcas até hoje), e o fim. Você me torturou no meu próprio reino, concretizou a forma mais dolorosa de traição e enganação. As minhas rosas murcharam. Eu comecei a temer quando o crepúsculo caísse e fosse a hora de cair em seus braços. Você me privou de um dos únicos momentos onde eu esquecia quem era e porque sofria e me tornava um Deus, me provou que adentrar o seu mundo às vezes pode ser pior do que abraçar sua irmã. Ela poderia  me levar, não haveria objeção de minha parte.

           Você me traiu Sonho, eu posso ser um mortal mas encontrarei um modo de te destruir

                                                                                                                                                   Com carinho,
                                                                                                                                                     R.

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